sábado, 17 de abril de 2010

Fábula da Confiança


Chega o dia em que a Verdade parece falhar. Essa guerreira incansável em sua jornada, está se curvando sob um peso que não lhe compete carregar. O peso da Confiança, que vai guiada por ela.
Digna, porém frágil e dependente, a Confiança é como uma virgem que, uma vez tocada, nunca poderá voltar a ser o que era. Mas também depois de maculada poderá ver melhor a própria Verdade...pois a Confiança, às vezes pode confundir Verdade com Ilusão, ou depositar nela toda sua vida, sobrecarregá-la com sua dependência. E isto acontece porque antes de ser tocada, a Confiança se vale de um véu por proteção de sua pureza...o véu da Inocência. Este véu parece, à primeira vista, uma virtude, ele mantém a Confiança segura de si, porém turva-lhe a visão. A Inocência é a primeira a cair quando a Verdade falha, é a única que não se refaz, abandonando a Confiança à sua própria sorte.
Agora sozinha, com a Verdade mostrando-se falha, golpeando-lhe, ameaçando deixar-lhe e sem a abençoada e efêmera proteção da Inocência, tenta se firmar novamente, dar mais um voto a si mesma e à vida, sabe que não é mais a mesma, porém lá dentro de si, sente algo como que uma pequena chama querendo aquecer-lhe. Olha em volta e o mundo lhe parece diferente... a visão está mais clara...e agora parece poder ver algo que sempre esteve ali, de onde vem aquela chama, a luz e o calor. Sim, é ele...é o Amor! Sempre soube de sua existência, sempre sentiu sua presença próxima, mas não tinha visto sua face! E ele agora parece tão mais belo e imponente do que a própria Verdade! E tão mais bondoso... Ele lhe estende a mão e a toma nos braços . A levanta, firma seus pés e a coloca novamente em seu caminho. É agora o Amor quem a guia e protege...
E a Verdade, sua velha companheira, que se mostrou tão falha, estava apenas cansada. Não era esse o seu papel e ela não poderia guiar a Confiança tão bem quanto o Amor, porque ele, ao contrário de si, não se cansaria nunca, mesmo que a Inocência jamais retornasse- e não retornaria!- Era o Amor o maior responsável pela Confiança e ele a levaria consigo, não a deixando morrer jamais, enquanto ele vivesse!E quanto mais forte ele estivesse, mais a sustentaria. A Verdade está livre para cumprir o seu papel, ser ela mesma...sem medo de trair a Confiança.
A Confiança, agora depende do Amor.

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