sexta-feira, 19 de agosto de 2011

INVERNO


Este ano passamos por um inverno rigoroso. Segundo os noticiários, o mais rigoroso dos últimos onze anos. De fato, ele ainda está em pleno curso. Mas já está quase no final. Já temos uns dias bonitos de sol e um pouco de calor, às vezes.

Hoje, especialmente, está chovendo bastante. A temperatura caiu um pouco e estou em casa, impedida de fazer algumas coisas que deveria estar fazendo.

Mas aproveito para refletir um pouco sobre esse inverno. Sobre o frio intenso, sobre as fortes chuvas e ventanias que enfrentei nos últimos meses, depois que esta estação começou.

Eu não me lembrava de um inverno com tantas geadas e até neve. Não me lembrava de tantas perdas de plantações, animais e pessoas para o frio. Não imaginava que o inverno pudesse congelar absolutamente tudo à minha volta.

Três meses atrás, percebi que o frio estava vindo e eu não teria muito o que fazer, nem onde me abrigar. Me vi à mercê do vento e da chuva, até do gelo, que poderia ser fatal. Pressenti uma estação implacável de frio e perdas. Me senti uma plantinha indefesa no meio da geada. E, apesar de olhar em volta e ver as pequenas sementes brotando, mostrando suas primeiras folhinhas na superfície, comecei a ver que elas não aguentariam... que eu também não aguentaria.

Vi o vento, a chuva, o gelo cada vez mais perto e, quando achei que seria atingida em cheio, sem chances de me defender, uma boa quantidade de terra caiu sobre mim. Fiquei no escuro, não vi mais o que estava acontecendo ao meu redor. Eu não sabia que estava sendo protegida.Era o Jardineiro. Ele havia jogado a terra sobre mim e as outras plantinhas para que a geada não nos matasse. Estava com muito medo, nem sabia se aquela proteção seria suficiente para nos salvar. Não sabia quantos dias, semanas ou meses ainda teria que ficar sob a terra, sem sol, sem água, sem vento, sem pássaros, borboletas. Não sabia se as outras plantinhas estariam vivas quando saíssemos do escuro. A única coisa que eu sabia é que o frio era inevitável. Mas havia um Jardineiro cuidando de nós. Me lembrei de ocasiões em que Ele havia feito algo parecido, quando precisamos. Retirou ervas que poderiam nos matar, ajeitou a terra em volta de nós, até nos transplantou em outros terrenos mais férteis.

Mas, de fato, o medo de sufocar sob a terra, à medida em que o tempo passava sem sinais de sol ou calor ia ficando cada vez maior. Eu me debruçava sobre mim mesma, ficava encolhida naquele escuro, com frio, com dor. E me segurava firme. Só o que pensava era na primavera e as lindas flores que eu seria capaz de produzir... e depois os frutos. Pensava em como eu estaria linda no verão, com minhas folhas grandes e verdes ao sol, brilhando, vibrando, tão viva! Lembrava de todas as lindas estações que eu já tinha vivido, de todas as flores, de todos os ventos e os pássaros que traziam pólen e me fecundavam com tanta alegria. Fechava meus olhos no escuro e sorria num misto de lembrança e esperança. Sim. As estações vem e vão. Este inverno também passaria e tudo o que eu tinha que fazer era ficar ali, encolhida, protegida, esperando...

Aos poucos o frio foi diminuindo... O sol apareceu, deu seu calor e sua energia para nos alimentar. O Jardineiro voltou. Já está começando a tirar a terra de cima de nós para que possamos receber os raios de sol que surgem e assim continuarmos a crescer, florescer, frutificar.
Algumas plantinhas não sobreviveram ao rigor deste inverno. Nosso jardim não dará alguns frutos, mas podemos respirar agora e esperar que o vento e os pássaros tragam de volta o pólen para que a vida recomece.

As estações vem e vão. Alguns de nós não sobrevivem, mas sempre teremos o Jardineiro fazendo seu milagre, cuidando de nós e não nos deixando desaparecer para sempre. Sou uma das plantinhas que sobreviveram. Já posso sentir o sol renovando minhas forças. Já posso escutar os pássaros cantando. Estou quase pronta, façam seu trabalho. Tragam a vida!

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