quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

HISTÓRIAS QUE CONTAMOS PRA NÓS MESMOS...


A nossa vida é um grande mosaico...um tipo de quebra-cabeça e nossa tarefa enquanto a vivemos é juntar as peças na ordem e no lugar certo. Cada pecinha é um momento, um dia, uma pessoa, uma vontade, uma intenção, um sentimento,uma dor, uma vitória, uma alegria,um lugar...e à medida em que vamos juntando as peças e vendo o desenho se formar, podemos, então, ter uma idéia de quem somos. Toda nossa história, nossas lembranças estão ali, em pequenas peças que se juntam para fazer sentido. Nosso nascimento, nossa infância, nossa família. A escolinha do pré-primário, os primeiros amiguinhos, a casa da avó, os carinhos da mamãe...e as broncas, a força do papai. As músicas que dançávamos nas festinhas e os presentinhos que ganhávamos no nosso aniversário. Os natais e páscoas com seus coelhos e bons velhinhos, que existiam ou não... As brigas com os irmãos e as brincadeiras, as risadas incontroláveis. A temida e tão desejada adolescência, com seus conflitos e medos, e os namoricos que eram paixões eternas, até a próxima semana! E depois a escolha da profissão, o primeiro emprego, o chefe, a rotina,os colegas, o salário, o cartão de crédito. O grande amor de nossa vida...o sexo. E tudo isso vai se juntando, é a nossa história e deve estar lá, cada pecinha. Não importa se lembramos ou se nos foram contados, mas cada momento desse deve estar lá, formando a trama e completando nossa identidade, nossa vida.


Mas e o que acontece quando falta uma peça? E se ela não existe? Ou se a peça que temos não nos agrada, se a achamos feia e indesejável? Então fica aquele buraco ali, nos dizendo que nosso desenho está incompleto, nossa vida está incompleta, ou que não é como queríamos. Se não tivemos um pai, ou se somos adotados ou se não tivemos uma família unida e um lar seguro...se não pudemos ter nossas primeiras experiências com o sexo na adolescência ou se não pudemos escolher que curso fazer na faculdade e seguimos uma imposição familiar. Então faltam peças, e essas não podem ser substituídas. O que fazemos? Simples! Inventamos.

Inventamos novas histórias sobre como foi tranquilo crescer sem pai, ou como foi útil aquele curso que fizemos para agradar nossa família. Vamos inventado peças. E vamos contando a história dessas peças inventadas para nós mesmos à exaustão. Precisamos nos convencer de que essas servem. E de tanto contar e recontar, esquecemos que não são verdade. Esquecemos que chorávamos à noite, ouvindo nossos pais brigando, ou que sentíamos nosso peito quase explodir, por causa daquela timidez absurda que impedia que declarássemos nosso amor àquela pessoa especial e por isso tivemos que vê-la aos beijos com nosso melhor amigo. Esquecemos que nos sentíamos extremamente frustrados por não poder escolher nosso próprio futuro, por ter que seguir uma religião que não era a que queríamos ter, por não poder questionar. E aí inventávamos novas peças, novas histórias. Novos "eus".

E essas novas peças, que de início parecem se encaixar tão bem nos espaços vazios, com o tempo já não servem mais. Vão se desgastando, desencaixando e esse desencaixe parece que vai pôr todo o resto a perder. O que mais nos amedronta é o fato de, por termos esquecido que essas peças são falsas, acabarmos achando que toda nossa história está ameaçada pelo caos e a confusão. E mesmo assim, baseados em histórias falsas, tentamos seguir em frente, mesmo não sabendo onde queremos chegar, vamos inventando peças, agora, até mesmo para o futuro.

"Ah, sim! Acho que o que devo fazer para resolver essa confusão é pensar no futuro. Agora que tenho vinte e tantos anos, sou adulto, me considero maduro e independente e estou prestes a conseguir o emprego que tanto queria, na profissão que minha família me orientou a seguir e na qual estou me saindo bem! Sim, meu próximo passo é assumir um compromisso mais sério com minha namorada, vou pedí-la em casamento. É o mais natural a fazer pois eu a amo e sei que posso constituir família. Tenho uma referência de família que, mesmo não sendo a minha, sei que posso seguir. Tenho um referencial de pai, de marido e de conduta moral que vim juntando, emprestando de pais de amigos e de outros adultos que me serviram de exemplo, que tenho certeza que o fato de não ter conhecido meu pai não fará diferença quando eu for um pai e marido...Sei que dará certo, pois me saí bem até aqui... não foi?"

E mais uma peça, agora de tamanho bem maior que as anteriores está sendo criada e isso já é automático... E assim contamos mais uma história e como já não faz diferença se é verdadeira ou não, ela vai se sobrepor ao grande buraco que nos espera... uma armadilha. Cairemos, sem ter tempo nem para saber onde é que estamos caindo.

Se tem como reparar isso? Sim, eu acho que tem. Acho que o que temos que fazer é olhar melhor para o nosso quebra-cabeças e tentar descobrir onde estão as peças falsas. Acho que essas peças falsas no nosso passado estão estreitamente ligadas à outras do nosso futuro. Se conseguirmos achá-las, poderemos tirá-las de lá e ver qual realmente deveria ser a história daquele espaço, daquele dia ou daquela pessoa de nossa vida. Aí, sim, com as histórias verdadeiras assumindo seu lugar no passado, mesmo que não sejam as mais bonitas ou desejáveis, mas sendo as "honestas" histórias de nossas vidas, poderemos identificar quando uma peça falsa estiver se formando no nosso futuro.

Talvez seja doloroso arrancar as peças falsas, assumir as histórias reais de nossas vidas, mas penso que só assim poderemos seguir livremente o curso de nossa história e ser quem fomos criados para ser. O futuro de nossa história, então, será o resultado de nossa verdade!










"Aos meus amigos. Vivam suas verdadeiras histórias!"







3 comentários:

  1. É isso mesmo. Faz muito muito sentido. Matou a pau!
    Bjo!

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  2. Nossa...
    Que texto rico irmããããa...
    Como sempre.
    Simplesmente real, verídico.
    Vou repassar isso pra todas as pessoas que eu amo.
    Beijo grande
    Estou com saudades =[
    AMOOOO

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  3. Uauuuuu Val.
    Arrebentou

    As peças falsas, carregamos tantas, mas a cada dia que passa são substituídas com a maturidade e experiência de vida ;

    Lindo texto
    beijokas

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