quarta-feira, 13 de março de 2013

MÃE TIPO 5???


Ontem eu li que o conceito moderno de maternidade certamente não foi criado por um tipo 5. Eu concordo plenamente... ser mãe na nossa sociedade cristã ocidental é sinônimo de entrega total, doação, perda ou confusão da identidade, anulação da libido feminina em função de uma imagem sacro-santa, elevada acima da natureza humana.
Ser mãe significa, pelos moldes sociais, não ter tempo pra si mesma, não olhar pra si mesma, não desejar nada pra si mesma, nunca, em nenhuma circunstância se colocar em primeiro plano na vida... é fazer do filho seu único objetivo na vida - ou, numa linguagem freudiana, seu falo simbólico, que lhe foi tirado injustamente numa época remota. Ser mãe, ainda, significa não ter controle das próprias emoções, é ser extremada, quase insana em alguns momentos.
E é por isso, entre outras coisas, que a imagem sagrada e abnegada da Mãe não poderia, nunca, ter sido concebida por um tipo 5. Como tipo 5 e mãe, eu não entendo as mães que se anulam, não entendo as mães que tentam a duras penas doar 100% de si para o filho... Que gastam toda sua energia com ele e não se sentem no direito de parar, respirar um pouco sozinhas e recarregar suas baterias pra depois ter um momento de qualidade na relação com o filho.
Quando o meu filho nasceu eu tive, logo de cara, um choque muito grande com relação a dependência dele. Percebi que eu era a única fonte de alimento e a maior responsável pela manutenção daquela vida. Devo confessar que, embora pra muitas mães isso signifique um poder e um prazer imensos, pra mim foi uma sentença de prisão. Surtei um pouco com isso, achei que nunca mais teria vida própria. Fiquei sem identidade por um tempo, chorei muito querendo minha vida de volta... Mas percebi que todo esse drama aconteceu justamente porque eu tinha em mente o modelinho de mãe que eu descrevi no começo do texto e eu achava que deveria segui-lo... Isso era muito pesado pra mim. Não tive dúvidas de que não estava curtindo nem um pouco... Mas pensei bem, lembrei de umas mães mais racionais, mais no controle da situação, conversei com algumas...principalmente, lembrei da minha mãe e no fim, percebi que eu poderia, sim, ser mãe e continuar tendo minha vida, meu espaço, meu tempo.
Parti pra ação, desenvolvendo uma rotina pro meu filho de sono entre as mamadas. Insisti num ritual noturno de sono que, por muitas vezes me fez agir de maneira indelicada com as eventuais visitas que estivessem em casa na hora de colocá-lo pra dormir. Aguentei um pouco de choro até entender os sinais de cansaço dele, levantei- e ainda levanto- algumas vezes à noite para devolver a chupeta pra ele... controlei o horário de mamadas. Tive que confiar em mim mesma e no meu filho, em seus processos biológicos e em meus instintos.
O resultado é que eu consegui voltar ao trabalho e à faculdade com o mínimo possível de estresse. Ele fica bem na escolinha, fica bem com alguém cuidando dele aqui em casa durante a noite e eu fico tranquila, pois confio no meu trabalho...
Mas se eu seguisse o modelo de mãe abnegada e culpada, nossa...não sei se teria conseguido. Estaria cansada, com baixa auto-estima, estressada, ressentida e frustrada e no meio de tudo isso estaria meu bebê que não entende nada e que só quer ser bem cuidado, protegido e amado. Como é que eu faria isso? Como eu iria rir com ele, ensiná-lo a se divertir, ensiná-lo a amar se eu não tivesse tudo isso pra mim mesma. Como eu ajudaria meu filho a ser um indivíduo pleno, se eu mesma não fosse? Como eu faria pra não colocar sobre ele o sentimento de culpa por meus fracassos, se eu me sentisse culpada o tempo todo em relação à ele? Como eu diria a ele pra seguir seu próprio caminho, um dia, se eu não fizesse o mesmo? Como é que eu poderia ter exemplos de independência e autonomia pra passar pra ele se eu abrisse mão disso por pura covardia? Como eu ensinaria meu filho a ser corajoso e confiante, se eu não fosse, também?
Ah, não, gente... o modelo de mãe cristão ocidental me dizia pra ficar em volta do meu filho 24 horas por dia, pra deixar de ser fêmea, pra deixar de ser forte, pra deixar de ter uma vida própria, pra abdicar do comando dessa mesma vida... o modelo me dizia pra surtar a cada tosse, pra morrer a cada choro dele, pra me culpar por cada incômodo, pra não soltá-lo nunca dos braços mesmo que isso significasse cercear-lhe  o direito de crescer...
Acho que, como tipo 5 eu me recusei desde o primeiro momento a ser assim, a seguir o modelo... acho que não sou a única, que muitas mães são tão felizes com seus filhos independentes e livres como eu sou, que muitas outras mulheres conseguem ter uma relação de qualidade com seus filhos, sem precisar inventar um 'amor incondicional' que cubra todas as suas necessidades básicas abandonadas e que as compense por suas vidas anuladas. Mães que não vão cobrar dos filhos uma reparação por isso, pois não acham justo tirar a vida do outro do mesmo modo que não acham justo doar sua vida a esse outro.
Mas, devo dizer, pra finalizar essa parte da minha reflexão materna, que o melhor de tudo isso é que vejo meu filho feliz, se desenvolvendo muito bem, saudável e com um sorriso enorme cada vez que nos olhamos nos olhos!
Eu li uma vez, também, que como pais, devemos fazer o melhor que pudermos por nossos filhos e, quando eles crescerem, confiar que o trabalho foi bem feito, que eles serão pessoas saudáveis física, emocional e afetivamente. Esse é o sucesso em criar um filho: mandar um adulto competente e independente pra vida e voltar à nossa vida que não deve ser interrompida durante esse processo todo.

Um comentário:

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