sábado, 27 de julho de 2013

MINHA HISTÓRIA DE AMAMENTAÇÃO

Meu filho não mama mais no peito. Já faz alguns dias...na verdade umas três semanas. Meu leite diminuiu, ele prefere a rapidez da mamadeira e assim entramos num acordo, ele e eu.
A verdade é que eu não achava que iria amamentar até os 'dois anos ou mais' como recomenda a OMS. Eu soube, desde o primeiro dia em casa, que não amamentaria muito.
Meu maior conflito da maternidade, aliás, meu maior choque, foi me perceber a única fonte de alimentação de outro ser humano. Isso me pegou de um jeito que eu, até hoje, não sei colocar em palavras. Era uma mistura de sentimentos tão profundos e intensos que me tirou completamente da casinha. Levantar de madrugada e pegar aquele pequenininho, aconchegar no colo e dar o peito era incrível, mas eu não me sentia poderosa...me sentia presa, sem identidade, sem função no mundo, além daquela. Pra muitas mulheres, isso representa a glória da maternidade, mas pra mim, não... Eu já queria que ele mamasse logo, queria que o tempo passasse logo pra eu poder dar outro leite, outros alimentos, pra que outra pessoa pudesse alimentá-lo, além de mim... Passei os primeiros três meses me sentindo uma 'teta' ambulante...
Mas aí, meu bebê foi pra escolinha, por meio período pra eu poder voltar à faculdade e eu relaxei um pouco. Umas semanas antes disso, tratei de comprar um extrator de leite, mamadeiras e, como já estava trabalhando à noite na banda, nos fins de semana, ele foi acostumando aos poucos a receber seu alimento por outros meios. Não estranhou o bico, já que tinha pego a chupeta desde o primeiro mês. Não estranhou quem o alimentava, neste caso, minha mãe e meu marido e, depois, as tias da escolinha. Não estranhou a temperatura do leite, nada. Meu filho cooperou comigo desde o começo.
 Eu sabia, desde a gravidez, que voltaria a trabalhar e estudar. Sabia que ele iria pra escolinha cedo e que precisaria ser cuidado por outras pessoas, também muito cedo, na vidinha dele. E ele deve ter sentido isso, pois não objetou uma única vez.
 Meu filho se mostrou uma pessoa melhor do que eu. Eu achei um saco levantar de madrugada...Ele tratou logo de dormir a noite toda. Eu achava muito feio uma criança grandinha puxando a roupa da mãe em público, naquele tom de controle e exigência,  pra mamar...Ele tratou de gostar da mamadeira. Eu me preocupava com quem cuidaria dele, com a escolinha, como seria tudo isso...Ele tratou de amar a escola e abrir um grande sorriso toda vez que avista o muro amarelo da entrada. Tratou de sorrir pra todas as pessoas com quem faz contato. Tratou de mostrar, com esse sorriso, uma gratidão e cooperação com os cuidados que essas pessoas eventualmente viessem dispensar a ele.
E agora, aos sete meses, ele não mama mais no peito. Acho mesmo que ele nem chegou a associar o peito à minha pessoa. Acho que pra ele, alimentação é uma coisa, carinho e aconchego no colo é outra. Porque, sim, nós temos nossos momentos exclusivos de carinho, de colinho, de beijinho e cheirinho...e eu não preciso estar amamentando pra fazer isso. Eu faço de graça, de forma que ele saiba que aquela hora é só pra isso mesmo, pra expressarmos nosso amor. E ele faz carinho, adora sentir minha pele, pega no meu rosto...fica passando a mãozinha dele na minha.
Claro que eu tenho que confessar que, quando ele começou na escolinha e a pediatra orientou que eu oferecesse o complemento, porque o ganho de peso dele apresentava uma ligeira queda, eu resisti! Não queria dar outro leite, não. Eu tirava leite, armazenava no congelador, mandava todo dia pra escolinha... mas no final de trinta dias, meu bebê não tinha ganho mais que 100 gramas de peso... Me apavorei, senti aquela culpa por não ter alimentado meu filho direito, corri e comprei o tal do LA. Ele, como sempre, aceitou sem cara feia.Gostou de primeira e eu fiquei tranquila. Então parei de tirar leite, passei a, aos 4 meses, amamentar meu bebê só de manhã e à noite e assim passamos mais dois meses. Aos seis, introduzimos as papinhas e as frutinhas. A comidinha salgada ele amou, a doce, levou um tempinho pra acostumar. Chá, suco, água..ele foi conhecendo aos poucos...e o peito foi perdendo mais terreno a cada dia. O leite foi minguando e, por isso mesmo, ele teria que passar mais tempo e fazer mais força pra sugá-lo. Foi aí que ele se estressou. Ficou difícil pra nós dois e eu fui deixando de oferecer. Ele nunca, nem uma única vez, me pediu o peito. E depois que resolvemos assim, não sentiu falta.
Hoje, olhando praquelas noites difíceis nos primeiros meses, lembrando da pressa que eu tinha...nossa! Se eu soubesse que passaria tão rápido, teria aproveitado mais. Teria feito tudo igual, mas sem aquele estresse e aquela incerteza quanto à minha identidade, quanto à minha liberdade. Me sentia presa e nem sabia que era uma prisão tão doce e tão passageira... Mas até a minha pressa faz parte da mãe que eu sou e faz parte do filho que eu tenho. E, da mesma forma que eu sinto que ele é o filho perfeito pra mim, devo ser a mãe perfeita pra ele e assim vamos aprendendo a ser mãe e filho juntos. Os melhores um pro outro.
Bom... essa é minha história de amamentação. Não é a mais romântica, não é aquele sonho, não é um conto de fadas...mas é a minha história e é honesta. É claro, o Ministério da Saúde recomenda amamentação exclusiva até o sexto mês, o Ministério do Trabalho só dá quatro meses pra ficarmos com nossos bebês, não importando se antes ou depois do parto... o 'ministério da minha mãe' recomenda leite de vaca e mingau desde os dois meses e o 'ministério da minha vó' teria recomendado até leite de cabra e caldo de feijão... Então o que eu fiz foi criar o meu próprio 'ministério de alimentação'  adequado à minha realidade.
E como vou saber se acertei? Não vou saber nunca... Mas tenho  meus parâmetros, que são a minha consciência tranquila, o peso do meu filho na curva normal... e o sorriso dele...ah! esse é o meu melhor guia, sempre!

2 comentários:

  1. É sempre bom ler suas palavras! Você tem uma lucidez e um jeito de ver a vida no qual me identifico muito!
    Acho você uma mulher muito interessante! Marcante, no mínimo.
    Além de linda, talentosa e inteligente!
    Acredito muito que você será uma ótima psicóloga, assim como você já é uma ótima cantora e uma ótima mãe!!!

    Com muita admiração,
    Tâmara

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    1. Ah, Tâmara! Também achei muito bom ler suas palavras! Obrigada mesmo!
      =)

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