terça-feira, 11 de março de 2014

Seu filho não é tão importante assim.

Levei meu bebê de 1 ano e 3 meses pra tomar vacina.
Enquanto aguardava nossa vez, deixei que ele andasse pela sala de espera, onde havia, pelo menos, umas 30 pessoas. Como meu filho é um serzinho extremamente sociável, logo se deu conta das pessoas em sua volta e tratou de se dirigir a elas, como ele geralmente faz, desde bem pequeno. Pra uns ele sorria, pra outros dava 'tchau tchau' e pra outros ainda, estendia o brinquedo que estava em sua mão. E a reação das pessoas era igualmente diversa. Muitos sorriam, estendiam a mão para chamá-lo, outros apenas olhavam indiferentes, outros faziam uma cara que parecia dizer : "Quem deixou esse bebê solto pra vir aqui me incomodar?".
Fiquei observando meu filho em sua tentativa de socialização, esperando que todos o achassem lindo e me espantando com a falta de empatia de alguns diante daquele bebê tão sorridente. Foi então que uma nova reflexão, diferente das que eu já tive até aqui sobre meu papel como mãe, começou a surgir.
Espero que, se você for mãe ou pai, tente acompanhar meu raciocínio, pois isso tudo foi o que eu disse a mim mesma e que me custou uma noite de sono...
Primeiro quero te fazer um pergunta meio óbvia:
- Seu filho é a pessoa mais importante do mundo, para você?
- Claro que sim!- você diria.
- Pois, pra mim, ele não é. - eu te respondo.
Estranho, não é? Espantoso alguém dizer na sua cara que seu filho não é tão importante assim. Mas, se você pensar bem, verá que isso é também um tanto óbvio. Acompanhe: você acha que alguém no mundo ama tanto ou mais o seu filho do que você? Não... não mesmo. Então, se seu julgamento sobre seu filho é baseado no amor mais profundo e incondicional e que só você sente por ele, alguém mais no mundo pode vê-lo como você o vê? Certamente que não, também. Então podemos dizer que seu filho é a pessoa mais importante, linda, especial e perfeita do mundo apenas pra você, certo?
Agora que concordamos, pense: num mundo de mais de sete bilhões de pessoas, onde apenas uma (ou duas) o ama incondicionalmente, do que você acha que seu filho vai precisar para ser aceito, integrado, respeitado e até amado? Ou seja, quais ferramentas ele precisará ter para socializar, se relacionar com algum sucesso num universo do qual ele não é o centro? Já pensou nisso?
Sim. O seu filhinho maravilhoso irá crescer e receberá olhares como aqueles que meu filho recebeu ontem  e que tanto me intrigaram. Ele terá que lidar com pessoas que, diferente de você, não acham que ele é perfeito só de respirar. Ele terá que lidar com indiferença, cara feia, broncas, ele terá que receber olhares frios e ausência de sorrisos. É claro que não será assim o tempo todo, mas é certo que ele não será aplaudido com tanto entusiasmo por qualquer comportamento que ele apresente. Ele terá que conquistar espaço no meio das 6 bilhões, 999 milhões, 999 mil e 998 outras pessoas do mundo. 
Você já tinha pensado nisso? Para você ele é um milagre, mas para o restante do mundo, ele é apenas mais um ser humano comum. Pode ser muito difícil compreender isso, então vejamos: pense nos filhos das outras pessoas. Não precisa ser aqueles lá na China, não. Pense nos mais próximos a você: seus sobrinhos, os filhos dos seus amigos, seus afilhados. São crianças que você naturalmente ama e faria muito para vê-los felizes não é mesmo? Mas você deve ter algumas expectativas com relação ao comportamento deles, como, por exemplo, não gostar que eles gritem ou derrubem coisas. Não admitir de forma alguma que eles desobedeçam ou sejam birrentos. E, honestamente, os limites de comportamento que você estabelece (mesmo que não explicitamente) para eles são um tanto quanto mais rígidos do que os que você tem para o seu filho, estou certa? Porque, por mais que você os ame, isso não é incondicional e em algum momento eles começam a te incomodar, não é? E você pode até pensar algo do tipo: " Nossa, o Fulaninho é lindo, mas tá ficando birrento, Deus me livre!"
Pois é, para todo o restante do mundo o seu filho perfeito também é mais um "filho dos outros" e está sujeito a receber esse tipo de reação e pensamento. Então, qual  você acha que deveria ser sua postura em relação a isso? Brigar com todos que acham que seu filho não é um anjo do céu? Defender o direito que você acha que ele tem de ser idolatrado? Já concordamos aqui que ninguém mais vai amar seu filho como você o ama, então, por que esperar isso das pessoas? Não seria mais razoável, então, se colocar no lugar delas e perceber que seu filho precisará conquistá-las em algum momento e que, para isso precisa estar preparado? Sim, porque ele vai receber muito mais olhar torto e bem menos aplausos e brilho nos olhos do que em casa. E se ele estiver sozinho, você não acha que ele já  deveria saber que esse tipo de reação existe? E não seria bem melhor que você mostrasse isso a ele, com todo o amor que você tem?
Pode parecer contraditório mas a pessoa que mais o ama no mundo é a principal responsável por mostrar a ele que não é assim com mais ninguém e ainda cuidar para que a autoestima dele não sofra um corte tão cedo na vida. E como fazer isso sem deixá-lo com a sensação de que o mundo é hostil e o rejeita? São muitas perguntas que eu estou fazendo a mim mesma e, bem, eu ainda estou tentando achar as respostas, mas acho que começa com o respeito pelo espaço pessoal de cada  um.
E essas respostas, que não são poucas, virão em outro texto, assim que eu conseguir organizá-las em mim primeiro.
Enquanto isso, vamos pensar sobre o que conversamos aqui...


Nenhum comentário:

Postar um comentário